Hoje foi publicado o último exemplar do Jornal do Brasil. Após 119 anos, não mais existirá em papel um dos principais diários da história da imprensa brasileira. Não resistindo à tecnologia e sem dar lucros, o JB existirá somente on line, na internet.
Não tenho conhecimento suficiente para falar da história desse jornal, mas desde as primeiras aulas na faculdade, sabia que o JB era de suma importância para a história de nosso país.
Reproduzo abaixo texto da jornalista Miriam Leitão, que passou pelo JB e nos revela um pouco da vida desse jornal.
"Hoje é um dia triste para a imprensa brasileira. O Jornal do Brasil, um dos mais tradicionais do país, deixa de circular na versão impressa. Agora ele só poderá ser lido na internet.
O JB foi formador de gerações. Vários jornalistas passaram por lá. Mas eu queria contar um pouco da história do jornal. Ele teve capas históricas. Surgiu em 9 de abril de 1891 e logo depois, em 1893, foi fechado por um ano e porque o presidente Floriano Peixoto achou que ele tinha incitado a Revolta da Armada.
Uma outra capa histórica é a que mostra o presidente Costa e Silva caindo para frente. Foi no dia da publicação do AI-5. Era uma forma de protestar. Ele realmente deixou o governo logo depois. Neste dia, 13 de dezembro de 1968, o editorial do JB foi censurado. Então puseram uma foto de um garoto pequeno lutando contra um adulto muito maior no lugar do texto.
Eles usavam qualquer coisa para protestar. Até a previsão do tempo, que uma vez vinha com o seguinte texto: Clima irrespirável em Brasília. Sujeito a nuvens e trovoadas.
Há uma capa histórica. A censura proibiu fotos no dia da morte do presidente do Chile, Salvador Allende. Então o JB não colocou foto alguma na primeira página, que veio toda só com texto.
Outro exemplo de inovação foi uma edição extra feita em algumas horas para noticiar a morte de Kennedy. Esta agilidade começou a ser copiada pelos outros jornais.
Aliás, o JB lançou vários movimentos. Ele fez uma reforma em 1961 com Alberto Dines e as mudanças influenciaram jornais do país inteiro. O Caderno B, o departamento de pesquisa, onde trabalhou Fernando Gabeira, que começou lá. Foi o primeiro jornal a ter um departamento dedicado a isso.
Algumas pessoas que trabalharam lá, só para lembrar: Joaquim Nabuco, Rui Barbosa (era o editor quando Floriano Peixoto mandou fechá-lo), Carlos Drummond de Andrade, Zózimo Barrozo do Amaral, que modernizou o colunismo social, João Saldanha, Armando Nogueira, Clarice Lispector, Alceu Amoroso Lima, Ziraldo, Fernando Sabino e Carlos Castello Branco, o maior colunista político que o Brasil já teve.
Todos estes passaram pelo Jornal do Brasil. O JB foi importante na minha vida porque eu fui editora de Economia na época da hiperinflação. Eu aprendi muito no jornal. No dia em que sai fiquei tão emocionada que eu fui para casa ler Carlos Drummond de Andrade. Ai encontrei a seguinte poesia: chama-se Papel.
E tudo que eu pensei
e tudo que eu falei
e tudo que me contaram
era papel.
E tudo que descobri
amei
detestei:
papel
Papel quanto havia em mim
e nos outros, papel
de jornal
de parede
de embrulho
papel de papel
papelão."
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