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quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Quando o passado encontra o presente. O redesenho de uma capa histórica dos anos 80

O redesign de capas históricas é uma das formas mais eficientes de analisar como o design editorial evoluiu ao longo das décadas. Neste artigo, mostro como a capa de A Tribuna, originalmente publicada em 10 de dezembro de 1980,foi recriada com o padrão visual de 2025, mantendo as mesmas notícias, mas aplicando técnicas atuais de diagramação, tipografia e hierarquia de informação. O resultado evidencia como o design jornalístico mudou e como a experiência de leitura de um jornal impresso se transformou. 



 No dia 10 de dezembro de 1980, A Tribuna, assim como jornais do mundo inteiro, publicava em sua capa a notícia do assassinato de John Lennon. Ao lado da manchete, a chamada sobre a morte do ex-Beatle ganha peso, mas se perde no meio de tantas outras notícias. E para complicar, a foto utilizada é do assassino anos antes do crime, e não de John Lennon.



Mas esse era o padrão visual da época. Muitas chamadas, textos com quase o mesmo peso gráfico, bastante informação ocupando praticamente todo o espaço da página, quase sem áreas de respiros.

E vendo essa capa, fiquei pensando em como seria a capa de A Tribuna nos dias de hoje, com a notícia da morte de John Lennon, com a linguagem visual, o ritmo informativo e os padrões gráficos do jornalismo contemporâneo? 

Essa pergunta me despertou a vontade de criar o processo de redesenho da capa de A Tribuna, publicada em 10 de dezembro de 1980. A ideia foi revisitar aquele momento marcante, tanto para a música quanto para a geopolítica mundial, e recriá-lo com o padrão gráfico de agora, de 2025. 

A primeira página original trazia dois assuntos que dominavam o noticiário naquele fim de ano: o assassinato do ex-Beatle em Nova York e a escalada de tensão no Leste Europeu, com a pressão da União Soviética sobre a Polônia. O visual da época era marcado pelo uso intenso de textos corridos, títulos mais tímidos, fotografia em baixa definição e um grid rígido, característico do jornal impresso pré-era digital.

No redesenho, as capas foram reinterpretadas seguindo os padrões atuais do próprio jornal: tipografias mais limpas, hierarquia visual clara, uso expressivo de chamadas e imagens em alta resolução. 
Criei dois modelos. 

O primeiro, mais tradicional e que segue a linha diária editorial, com manchete, chamadas e o grande destaque para a notícia da morte de John Lennon. O título continua o mesmo, mas ganha novas proporções e um respiro melhor no layout, com utilização da fotografia dele dominando a capa, gerando um destaque emocional visual que não existe na edição de 1980. O músico, que antes nem estava retratado na capa, surge agora em uma imagem nítida que dialoga com a estética editorial da atualidade. A aplicação da imagem do assassino reforça o papel informativo do jornal, mostrando os dois lados da notícia.


Como o objetivo não foi o de reescrever a história, mas mostrá-la sob o olhar gráfico da atualidade, a página teve também as outras chamadas do dia e, a manchete, permaneceu sendo a crise entre a União Soviética e a Polônia, tema que dominava o noticiário geopolítico de 1980.,

A segunda versão experimental tem o meu DNA. É um estilo que gosto muito de fazer. O famoso menos é mais. Uma capa conceitual que se torna uma homenagem a John Lennon. A utilização de versos da canção Imagine, que é um verdadeiro apelo seu apelo à paz, torna o design minimalista. Como imagem, usei não um foto do cantor, mas sim, uma referência tão marcante e ligada a ele, o óculos arredondado.

Essa releitura foge do formato tradicional de capa noticiosa, traduzindo em poucas linhas o impacto cultural que sua morte causou. Nesse modelo, grifei no texto os trechos que falam de motivos para matar ou morrer (que é o tema central da página), religião (o ponto de discordância que foi o motivo do crime) e vivendo  avida em paz (objetivo principal da humanidade).





 Acredito que o resultado final é um exercício de memória visual e editorial: uma ponte entre duas épocas, que revela como os jornais mudaram a forma de apresentar a notícia, principalmente, quando elas causam comoção mundial. Imagino o jornal impresso como uma cápsula do tempo, que pode, e deve. ser reaberta e redesenhada para uma nova geração de leitores.

Capas dos jornais do Brasil em 10 de dezembro de 1980 sobre a morte de John Lennon

Como os jornais brasileiros traduziram visualmente a morte de John Lennon em 1980

Quando os brasileiros acordaram na manhã de  10 de dezembro de 1980  e passaram pelas bancas de jornais, a notícia da morte do músico John Lennon, baleado na noite do dia 8 em Nova York, estampava praticamente todas as capas dos jornais do país. Antes da era digital, atualizar uma edição em poucas horas era um desafio técnico e logístico, e justamente por isso esses jornais se tornaram um registro valioso de como o design editorial reage a acontecimentos urgentes.

As primeiras páginas daquele dia revelam escolhas visuais pautadas pela urgência: fotos de arquivo de Lennon rapidamente selecionadas, títulos diretos e de grande peso tipográfico. A estética tipográfica dos jornais brasileiros dos anos 80, ainda distante de experimentações e mais próxima do jornalismo duro, ajudou a transmitir o peso da notícia. Manchetes curtas, verbos diretos e ausência de ornamentos demonstram como a forma gráfica reforça o conteúdo. Os títulos buscaram impacto imediato. Nada de grid complexo ou composições ousadas. As capas priorizaram clareza em uma simplicidade que parte do poder dessas edições: o leitor é confrontado imediatamente com o fato, sem distrações visuais.

45 anos depois, revisitar essas capas é mais que revisitar um momento de comoção global. É observar como o design editorial traduz urgência em linguagem visual. Mesmo com limitações técnicas, os jornais brasileiros conseguiram comunicar emoção, relevância e respeito à figura de Lennon.

Isso me faz pensar como seriam as capas de hoje dos jornais brasileiros noticiando a morte de Lennon, como todos os recursos visuais e tecnológicos existentes no design de jornais. 

Abaixo uma breve compilação de capas e páginas internas dos jornais brasileiros de 10 de dezembro de 1980.















domingo, 7 de dezembro de 2025

Três capas de jornais que enriquecem o domingo

 A análise visual de capas de jornais é uma das ferramentas mais importantes para compreender como o design editorial influencia diretamente a leitura, a percepção da notícia e a força comercial de uma publicação. E o domingo é o dia perfeito para essa função. Afinal, é quando os jornais publicam reportagens especiais que demandam maior tempo de leitura, criam layouts diferentes e criativos para prender a atenção do leitor.

E a primeira página de um jornal impresso de domingo ganha um peso maior, com a função de revelar ao leitor o conteúdo da publicação, atraindo-o através da criatividade, da ousadia, do cuidado visual.

Nesse breve posto, observamos três capas publicadas hoje onde é possível visualizar  como os elementos  hierarquia visual, grid, tipografia, cores e contraste e mancha gráfica são utilizados para construir impacto, organizar a informação e dialogar com diferentes públicos.

Três capas de jornais brasileiros de estados diferentes do País. Sob o ponto de vista do design gráfico editorial, destaque para soluções visuais, escolhas estéticas e estratégias de composição que interferem diretamente na leitura em banca e na experiência do leitor. 


Folha de Pernambuco (PE) – A origem da devoção


Predomínio absoluto da imagem, ocupando toda a capa, com sobreposição de elementos gráficos e transparências. Essa aplicação revela uma linguagem visual com forte apelo artístico e simbólico. A tipografia discreta e funcional, em segundo plano, dá força à imagem. O uso das cores azuis, dourados e tons quentes, criam contraste entre o sagrado e a vibração popular. Uma capa conceitual, mais contemplativa do que informativa, com foco na emoção e na fé.


O Povo (CE) – Para onde Leão XIV começa a levar a Igreja?



Um visual impactante que prende a atenção dos leitores, construído em uma estrutura vertical clássica, com grande área em respiro ao redor do título central. A referência direta à iluminura medieval e arte sacra, com ornamentos detalhados, embelezam e dão requinte à página, criando um layout que se assemelha à capa de um livro. A tipografia tem papel importante e a fonte serifada propiciou uma melhor definição da hierarquia do layout, gerando forte peso editorial à capa, ainda mais com a escolha da paleta de cores envelhecida, com tons terrosos, verdes, dourados e vermelhos, transmitindo tradição e solenidade. É uma capa com forte apelo institucional, histórica e solene, visualmente ligada à tradição e à autoridade religiosa.

A Tribuna (SP) – Os Guarás Vermelhos de Bertioga



Não é a manchete e nem mesmo, uma das principais chamadas da capa. Mas a composição da imagem dos Guarás Vermelhos valorizou a capa de hoje de A Tribuna, que diferente dos modelos acima, manteve a estrutura tradicional de um jornal. com blocos de elementos visuais bem definidos e múltiplas chamadas em sua página. O uso de fotografia recortada dos guarás atravessando o layout, criou um movimento diagonal e deu dinamismo visual à capa. O alto contraste das cores vibrantes enriqueceu o produto, onde a hierarquia das chamadas fica clara, de fácil leitura. É uma capa informativa mas não estática, e sim dinâmica, com leitura rápida, áreas de respiro e um forte apelo visual direto.

domingo, 23 de novembro de 2025

A prisão de Bolsonaro nas capas dos jornais brasileiros

O apagão criativo nas capas sobre a prisão de Jair Bolsonaro

A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro dominou as capas dos principais jornais brasileiros neste domingo. Mas, do ponto de vista do design editorial, o que se viu foi menos um momento de criatividade jornalística e mais uma repetição quase automática de escolhas visuais previsíveis.
O resultado? Capas corretas, informativas… mas pobres em invenção.

A redundância visual explorada pelos jornais empobrece a experiência do leitor. Quando todas as capas entregam a mesma combinação, desaparece o impacto individual de cada jornal. É como se os veículos tivessem aberto mão da própria voz gráfica. O Globo foi um pouco além. Uma fraca luz no fim do escuro túnel do trivial design de primeira página.

Manchetes que se repetem e mostram o óbvio, o que todos já sabem, o que já está expresso nas fotos: “Bolsonaro é preso pela PF”, “Bolsonaro é preso após queimar tornozeleira”, “Bolsonaro preso”. A manchete faz apenas o básico — descreve o fato, sem interpretação visual, sem metáfora gráfica. Há acontecimentos que pedem impacto visual, outros que pedem impacto verbal. Neste caso, os jornais optaram pela solução mais segura e literal.

Senti falta de detalhes que poderiam gerar leitura dramática, como por exemplo, a foto do ex-presidente com elementos gráficos que construíssem narrativa; recortes, enquadramentos ou fundo para buscar singularidade. Quase todoss seguiram o mesmo esqueleto: foto enorme, manchete direta, submanchete explicando a foto.

A prisão de Bolsonaro é enorme como fato político. Mas as capas não transmitem esse peso. Entregam apenas a superfície factual. Nenhum jornal conseguiu traduzir, graficamente, o impacto histórico do momento. A falta de ousadia visual não é apenas uma questão estética. Ela empobrece o debate público e reduz a capacidade do jornal de interpretar, não apenas informar.

A notícia é gigantesca. O design, hoje, foi pequeno.



















sábado, 22 de novembro de 2025

Design do livro. Como foi feita a capa de Dentro, de dentro do poema.

Um olhar sobre a capa de Dentro, de dentro do poema.

A capa de um livro de poesia carrega uma responsabilidade muito importante. Ela tem a função de não apenas apresentar o título, mas estimular o leitor a uma experiência sensível, sendo seduzido a manusear, folhear, ter vontade de ler. 

E foi isso que pensei quando criei a capa de Dentro, de dentro do poema, de Rodrigo Ladeira.

Ao criar o projeto gráfico da capa,  assumi essa missão, buscando ao mesmo tempo aliar delicadeza e inteligência visual. Para isso, pensei no no primeiro impacto, vindo da imagem central — um papel rasgado sugerindo que a capa tivesse um buraco por onde o título manuscrito vem revelado do interior do livro. Não pensei nisso é apenas como um recurso estético, mas uma metáfora pura, onde o rasgo sugere acesso ao íntimo, ao não dito, ao que estava escondido sob a superfície da página. A poesia, aqui, não está impressa — ela emerge.

Azul, silêncio e respiro

A ideia do fundo azul foi criar uma atmosfera calma, introspectiva e ampla, sem ruídos. A escolha cromática não compete com a mensagem da obra, mas a amplifica. 

Tipografia 

Um dos pontos mais difíceis na criação de um projeto visual é a escolha das letras para compor o título. Muitas foram testadas, em diversos tamanhos, tipos e cores. Optei por usar duas fontes diferentes, buscando uma composição bastante hierárquica. 

O título DENTRO aparecendo no topo, todo em caixa alta e com contraste, funciona como ponto de entrada visual à capa. A segunda parte do título, em uma caligrafia manuscrita, centralizada dentro do buraco, serve como um mergulho no interior da obra.

Busquei nessa capa uma coerência conceitual. O projeto gráfico não tem a função de ilustrar a poesia, mas sim encenar. A ideia foi fazer com que o leitor não apenas visse a capa, mas participasse do gesto de entrar no poema. Penso que para um livro que fala sobre interioridade, imaginação e palavra, não poderia haver escolha mais simbólica.







terça-feira, 4 de novembro de 2025

O Adeus a Lô Borges nas Capas dos Jornais Mineiros — Emoção, Design e Homenagem

A morte do músico Lô Borges, um dos fundadores do Clube da Esquina, comoveu Minas Gerais e o Brasil. Símbolo da música mineira, sua despedida deveria ter uma representação à altura nas capas dos jornais de mineiros. No mínimo, verdadeiras peças de design editorial que têm o poder de transformar o luto em arte visual.

Minimalismo e poesia no Estado de Minas


A capa do Estado de Minas é um exemplo de emoção contida e força simbólica. Sobre o fundo branco, um par de tênis gastos representa o LP de 1972 intitulado Lô Borges, mas mais conhecido popularmente como disco do tênis, em referência à imagem da capa do álbum. O texto,  “Se eu morrer, não chore não, é só a lua...”, é um trecho da canção Um girassol da cor do seu cabelo, e transforma a notícia em poema.

A escolha tipográfica, o espaço em branco e o equilíbrio visual fazem da página uma homenagem silenciosa, na qual o design comunica mais que as palavras. Um verdadeiro tributo ao músico, com a simplicidade e a leveza mineira.

Narrativa e movimento em O Tempo

Já o jornal O Tempo optou por uma composição mais narrativa e calorosa. O trem que parte sobre um violão é uma metáfora visual poderosa e referência musical também. As três fotos de Lô — jovem, maduro e em estúdio — constroem uma linha do tempo afetiva, destacando sua presença constante na cultura mineira e brasileira. A diagramação cria ritmo, e o uso de tons quentes e terrosos reforça o vínculo com Belo Horizonte e o Clube da Esquina, transformando a capa em uma bela peça emocional.

Design editorial como linguagem da memória

Tanto o Estado de Minas quanto O Tempo mostraram que o design jornalístico pode traduzir sentimento. As capas não apenas noticiaram uma morte. Elas contaram uma história, usaram o espaço gráfico como território da homenagem e revelaram como Minas fala de seus artistas: com poesia, silêncio e respeito. Nessas ocasiões, surgem capas bem trabalhadas e pensadas. E essas capas se tornam, documentos visuais da história e da cultura brasileira, e também exemplos de como o design editorial pode tocar o leitor pela forma, não apenas pelo conteúdo.

Abaixo, as páginas internas do Estado de Minas e o Tempo.