Participei do workshop Projeto Gráfico, Conceitos e Práticas do Design para Conteúdos Editoriais, com Rodrigo Maroja, que atua há 16 anos na área, tendo passado por revistas como Contigo, Superinteressante, Placar, e vencedor de 4 prêmios Malofiej.
Presenciei também a palestra do brasileiro Sergio Peçanha, editor de infografia da seção internacional do New York Times.
E para finalizar, acompanhei a conferência, com palestras e debate sobre o tema "Empresário, Freela ou Empregado?. Eis a Questão", onde tive a oportunidade de conhecer grandes nomes do design editorial.
Para saber um pouco como foi o evento, reproduzo o texto do Visual Loop Brasil, que também estava presente.
A Faculdade Casper Líbero (São Paulo) acolheu, entre os dias 28 e 30 de novembro, o Infolide 2013, evento do qual o Visual Loop Brasil foi parceiro de divulgação, e que reuniu profissionais, estudantes e interessados em infografia e design editorial.
Como já ocorreu em edições anteriores, os dois primeiros dias foram dedicados à realização dos workshops. Os participantes tiveram a oportunidade de aprender com as experiências da Mariana Santos, Sergio Peçanha, Rodrigo Maroja, Renata Steffen e Marina Chaccur, e em breve contamos publicar alguns relatos de quem esteve presente nessas sessões.
Mas o grande dia do Infolide 2013 foi o sábado (30), com a Conferência e o debate sobre o tema “Empresário, Freela ou Empregado? Eis a questão.“. Os visitantes foram recebidos com um delicioso café da manhã, e passavam alguns minutos das 10:00 quando o editor adjunto de arte na Folha de S.Paulo – e um dos grandes mentores por detrás do evento -, Mário Kanno, declarou aberta a conferência.
Design Thinking
Começando os trabalhos do dia, Fabio Silveira falou sobre Design Thinking. Designer e Professor, e com quase duas décadas de experiência no mercado editorial, Fábio abriu a sua apresentação com uma retrospectiva histórica do conceito de Design, desde meados da década de 1960 até a atualidade.
Essa contextualização serviu de base para que Fábio mostrasse como a própria relação entre o Design e a Sociedade vem se transformando, uma transição do ‘tradicional’ pensamento de que a “Forma segue a Função” para um Design mais contemporâneo, centrado na experiência do usuário, sustentando o argumento com vários artigos históricos – incluindo a conhecida teoria da distribuição de redes, cunhada por Paul Baran em 1964.
Outra referência fundamental apresentada pelo palestrante é Charles S. Peirce, com o seu conceito de Pensamento Abduzido, introduzido em 1884. Aplicado ao Design, esta forma de encarar processos, pessoas e produtos conduz inevitavelmente à inovação – que por sua vez, traz consigo novos desafios para o próprio profissional de Design.
Design Thinking é um exercício de multidisciplinaridade, uma combinação equilibrada de Empatia, Colaboração e Experimentação, em que os erros são parte natural do processo. É, no fundo, criar com as pessoas, e não para as pessoas, e o final da apresentação foi composto de vários exemplos concretos de aplicação do Design Thinking, sugestões de ferramentas e metodologias, e referências para quem quiser se aprofundar no assunto. Em breve, esta palestra estará disponível no Slideshare do autor.
Tendências da Infografia
O segundo palestrante foi o Fabrício Miranda, atualmente diretor de arte da revista Superinteressante. Premiado nacional e internacionalmente por várias vezes, ele participou do Malofiej 2013 como jurado e palestrante, e compartilhou com o auditório as principais tendências para o futuro da infografia que foram apresentadas em Pamplona.
Acompanhado com exemplos de projetos bem conhecidos por quem já segue regularmente o campo da visualização de informação, Fabrício falou sobre as características especificas de cada uma dessas tendências. Interatividade, motion graphics, visualizações em tempo real, interfaces dinâmicas, uso da infografia em marketing de conteúdo e aplicações mais artísticas – ‘visual Art’, também conhecido como ‘Info Art’, do qual Jaime Serra é um dos expoentes máximos da atualidade, juntamente com Nicholas Felton – foram as áreas mencionadas que estão gradativamente encontrando espaço até mesmo dentro das redações.
Assim, a infografia, enquanto linguagem, continua evoluindo, se renovando independentemente da atual crise na industria de mídia. É uma consequência natural da revolução tecnológica, do volume crescente de dados e da popularidade das plataformas de compartilhamento de conteúdo, e todas estas formas de utilização da visualização de informação, hoje ainda consideradas ‘revolucionárias’ no meio jornalístico, estarão cada vez mais presentes em portais de veículos nacionais e internacionais.
Trabalho em equipe como diferencial
Uma das apresentações mais esperadas desta edição do Infolide era a da portuguesa Mariana Santos, que tivemos a oportunidade de entrevistar há algumas semanas atrás aqui no Visual Loop Brasil. Na apresentação que ela fez no Infolide, abordou alguns dos trabalhos em que participou no The Guardian, assim como projetos mais recentes, já como International Journalist Knight Fellow.
A tônica central da sua intervenção foi a importância do trabalho em equipe, para concretizar projetos de visualização jornalística de outra forma impossíveis de desenvolver. A sua experiência no popular veículo britânico, juntamente com o desafio que foi a criação o recente especial do La Tercera sobre o 11 de setembro do Chile, ajudaram também o público a entender algumas das diferenças mais profundas entre o jornalismo praticado em contextos quase diametralmente opostos, tanto a nível cultural, como a nível técnico.
O (amplo) conceito de ‘gráfico’ no The New York Times
A segunda apresentação ‘internacional’ deste Infolide aconteceu já no período da tarde, após o almoço. Sergio Peçanha começou por mostrar alguns dos mais recentes projetos interativos publicados pelo Times que estendem os conceitos introduzidos pelo popular ‘SnowFall”. Estes projetos ilustram bem o desafio de equilibrar o uso dos vários elementos (imagens, textos, vídeos, gráficos) para criar uma narrativa visual que desperte a atenção para o assunto em questão, seja ele a situação na Síria, no Líbano ou no mar da China.
A história de como foi parar no Times, as skills que qualquer designer precisa ter para estar apto a atuar com jornalismo digital ao nível do que é praticado hoje (com a inevitável menção do D3.js do Mike Bostock), e a estrutura de trabalho em que está inserido no jornal mais conhecido do mundo, foram alguns dos pontos que Sergio também focou.
Neste último aspecto, aliás, ele fez questão de salientar como é a estrutura do departamento de gráficos do Times (atualmente com 36 profissionais e um ‘pit bull’ chamado Steve Duenes à frente das operações), e de como o próprio conceito do que é um ‘gráfico’ na redação é amplo o suficiente para conseguir contar histórias que de outra forma não veriam a luz do dia.
Talvez a mensagem mais importante que o Sergio deixou na sua passagem pelo Infolide, tanto na conferência como no Workshop, foi a forma como o profissional de design se posiciona diante da redação do Times: é necessário “ser o dono do mensagem, não apenas o dono do desenho ou do gráfico”. Agir como jornalista em todas as etapas do processo, desde a apuração à entrega final, e, claro, no mesmo espirito de equipe que a Mariana Santos já havia enfatizado.
Comunicação em via dupla
A última palestra do dia pertenceu à Larissa Magrisso, jornalista de formação e atualmente gerente de Conteúdo e Social Media da W3haus.
Através da apresentação de alguns dos cases mais representativos de ações desenvolvidas pelo seu núcleo (com destaque para Viva Linda, d’O Boticárioe o plantão do amor, do Sonho de Valsa), Larissa traçou um panorama dos atuais paradigmas da comunicação corporativa.
O consumidor não aceita mais a visão de comunicação ‘one way‘, ele exige formas de engajamento em múltiplas plataformas digitais, e por isso mesmo, o marketing de conteúdo virou necessidade. E ele é importante não apenas para disseminar mensagens e causas, mas acima de tudo para tangibilizar valores da marca.
E tudo isso pode ser aplicado ao atual contexto dos veículos de comunicação.
Empreender ou nem por isso?
A participação de palestrantes e convidados nesta edição do Infolide terminou com o debate “Empresário, Freela ou Empregado? Eis a questão.“, no qual participaram os nossos amigos Eduardo Asta, Gerson Mora, a Vanessa Queiroz e a Larissa Magrisso. A moderação ficou a cargo do Alexandre Lucas, que abriu a discussão com uma pergunta bem objetiva: Empreender é para todo o mundo?
De uma forma geral, a resposta é “Não”. É necessário uma série de características, sobretudo proatividade e empenho, segundo o Gerson Mora. O Asta complementou este raciocínio de forma perfeita: se você é passivo, fica em empresa, até porque, como também apontou a Vanessa, existem sempre riscos, muitos dos quais nem sequer se tem noção na hora de se resolver criar um negócio próprio.
Uma das sócias fundadoras do estúdio Colletivo Design, Vanessa compartilhou alguns dos desafios que ela enfrentou, juntamente com seus sócios, quando fundaram a empresa há quase 11 anos atrás. E esses desafios não se esgotam com o tempo, em especial neste mercado do design, onde estão constantemente surgindo novos concorrentes – inclusive os freelancers.
A Larissa tocou num ponto interessante nesta discussão, que é o empreendedorismo dentro da empresa em que você já trabalha. O caso do núcleo de mídias sociais na W3Haus é um exemplo claro disso, mas é óbvio que isso depende muito da própria cultura organizacional de cada empresa.
O bate-papo foi evoluindo (inclusive com algumas questões colocadas pela platéia) mais para o lado do empreendedorismo no Design, uma área que ainda carece do merecido reconhecimento por parte do próprio mercado brasileiro, como explicou o Gerson Mora. Por outro lado, é um fato que a comunicação corporativa está entrando em um novo patamar de demandas por parte de empresas dos mais variados segmentos de atuação, tanto a nível externo como a nível da comunicação interna.
Nesse contexto, o papel do ensino superior foi também alvo de algumas críticas. Para a Vanessa, os cursos de curta duração estão em alta precisamente porque existe esse desfazamento entre o que o mercado quer e o que é ensinado nas faculdades.
Isso torna ainda mais complicada a vida de quem acabou de se formar e tem ideia de começar com o seu próprio negócio. “É necessário encontrar o seu nicho”, disse o Eduardo, enfatizando a questão do pensamento estratégico na hora de tomar essa decisão. É preciso foco, e é preciso saber escolher os clientes. Como explicou o Gerson, por vezes o interesse em atender um cliente não é apenas financeiro, e essa visão estratégica pode justificar inclusive pegar trabalhos por valores bem abaixo do que é normalmente praticado.
É claro que se o seu trabalho for de qualidade, e se você conseguir agregar vários diferenciais, inevitavelmente você terá sucesso – todos concordaram com isso, com a Vanessa alertando ainda para a igualmente inevitável diferença entre o que você quer e o que você precisa fazer, em especial no começo.
O debate encerrou com os convidados deixando as suas dicas para quem acabou de se formar. Para a Vanessa, humildade e uma boa dose de ‘cara de pau’ para bater à porta de possíveis clientes são indispensáveis. A Larissa recomenda que se busque, sempre que possível, fazer o que se gosta, e nunca deixar de aprender. Já para o Gerson, é fundamental procurar se relacionar com profissionais já estabelecidos no mercado, e ter uma estratégia que não passe apenas por dinheiro foi a dica do Eduardo Asta.
Este é, obviamente, apenas um resumo do que foi discutido durante o Infolide 2013. No site do evento você encontra mais detalhes sobre cada uma das palestras, e nós ainda voltaremos a falar do principal evento de infografia do nosso país aqui no Visual Loop – especialmente sobre a Mostra de Infografia, que teve algumas novidades – , por isso fique atento!
Resta-nos só agradecer a todos os que estiveram envolvidos na organização do evento, incluindo a Mandacaru Design, que uma vez mais trabalhou para assegurar que o Infolide fosse um sucesso. Parabéns a todos – e até 2014!