quarta-feira, 10 de dezembro de 2025
Quando o passado encontra o presente. O redesenho de uma capa histórica dos anos 80
Capas dos jornais do Brasil em 10 de dezembro de 1980 sobre a morte de John Lennon
Como os jornais brasileiros traduziram visualmente a morte de John Lennon em 1980
Quando os brasileiros acordaram na manhã de 10 de dezembro de 1980 e passaram pelas bancas de jornais, a notícia da morte do músico John Lennon, baleado na noite do dia 8 em Nova York, estampava praticamente todas as capas dos jornais do país. Antes da era digital, atualizar uma edição em poucas horas era um desafio técnico e logístico, e justamente por isso esses jornais se tornaram um registro valioso de como o design editorial reage a acontecimentos urgentes.
As primeiras páginas daquele dia revelam escolhas visuais pautadas pela urgência: fotos de arquivo de Lennon rapidamente selecionadas, títulos diretos e de grande peso tipográfico. A estética tipográfica dos jornais brasileiros dos anos 80, ainda distante de experimentações e mais próxima do jornalismo duro, ajudou a transmitir o peso da notícia. Manchetes curtas, verbos diretos e ausência de ornamentos demonstram como a forma gráfica reforça o conteúdo. Os títulos buscaram impacto imediato. Nada de grid complexo ou composições ousadas. As capas priorizaram clareza em uma simplicidade que parte do poder dessas edições: o leitor é confrontado imediatamente com o fato, sem distrações visuais.
45 anos depois, revisitar essas capas é mais que revisitar um momento de comoção global. É observar como o design editorial traduz urgência em linguagem visual. Mesmo com limitações técnicas, os jornais brasileiros conseguiram comunicar emoção, relevância e respeito à figura de Lennon.
domingo, 7 de dezembro de 2025
Três capas de jornais que enriquecem o domingo
A análise visual de capas de jornais é uma das ferramentas mais importantes para compreender como o design editorial influencia diretamente a leitura, a percepção da notícia e a força comercial de uma publicação. E o domingo é o dia perfeito para essa função. Afinal, é quando os jornais publicam reportagens especiais que demandam maior tempo de leitura, criam layouts diferentes e criativos para prender a atenção do leitor.
E a primeira página de um jornal impresso de domingo ganha um peso maior, com a função de revelar ao leitor o conteúdo da publicação, atraindo-o através da criatividade, da ousadia, do cuidado visual.
Nesse breve posto, observamos três capas publicadas hoje onde é possível visualizar como os elementos hierarquia visual, grid, tipografia, cores e contraste e mancha gráfica são utilizados para construir impacto, organizar a informação e dialogar com diferentes públicos.
Três capas de jornais brasileiros de estados diferentes do País. Sob o ponto de vista do design gráfico editorial, destaque para soluções visuais, escolhas estéticas e estratégias de composição que interferem diretamente na leitura em banca e na experiência do leitor.
Folha de Pernambuco (PE) – A origem da devoção
Predomínio absoluto da imagem, ocupando toda a capa, com sobreposição de elementos gráficos e transparências. Essa aplicação revela uma linguagem visual com forte apelo artístico e simbólico. A tipografia discreta e funcional, em segundo plano, dá força à imagem. O uso das cores azuis, dourados e tons quentes, criam contraste entre o sagrado e a vibração popular. Uma capa conceitual, mais contemplativa do que informativa, com foco na emoção e na fé.
O Povo (CE) – Para onde Leão XIV começa a levar a Igreja?
Um visual impactante que prende a atenção dos leitores, construído em uma estrutura vertical clássica, com grande área em respiro ao redor do título central. A referência direta à iluminura medieval e arte sacra, com ornamentos detalhados, embelezam e dão requinte à página, criando um layout que se assemelha à capa de um livro. A tipografia tem papel importante e a fonte serifada propiciou uma melhor definição da hierarquia do layout, gerando forte peso editorial à capa, ainda mais com a escolha da paleta de cores envelhecida, com tons terrosos, verdes, dourados e vermelhos, transmitindo tradição e solenidade. É uma capa com forte apelo institucional, histórica e solene, visualmente ligada à tradição e à autoridade religiosa.A Tribuna (SP) – Os Guarás Vermelhos de Bertioga
domingo, 23 de novembro de 2025
A prisão de Bolsonaro nas capas dos jornais brasileiros
O apagão criativo nas capas sobre a prisão de Jair Bolsonaro
A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro dominou as capas dos principais jornais brasileiros neste domingo. Mas, do ponto de vista do design editorial, o que se viu foi menos um momento de criatividade jornalística e mais uma repetição quase automática de escolhas visuais previsíveis.
O resultado? Capas corretas, informativas… mas pobres em invenção.
A redundância visual explorada pelos jornais empobrece a experiência do leitor. Quando todas as capas entregam a mesma combinação, desaparece o impacto individual de cada jornal. É como se os veículos tivessem aberto mão da própria voz gráfica. O Globo foi um pouco além. Uma fraca luz no fim do escuro túnel do trivial design de primeira página.
A prisão de Bolsonaro é enorme como fato político. Mas as capas não transmitem esse peso. Entregam apenas a superfície factual. Nenhum jornal conseguiu traduzir, graficamente, o impacto histórico do momento. A falta de ousadia visual não é apenas uma questão estética. Ela empobrece o debate público e reduz a capacidade do jornal de interpretar, não apenas informar.
sábado, 22 de novembro de 2025
Design do livro. Como foi feita a capa de Dentro, de dentro do poema.
A capa de um livro de poesia carrega uma responsabilidade muito importante. Ela tem a função de não apenas apresentar o título, mas estimular o leitor a uma experiência sensível, sendo seduzido a manusear, folhear, ter vontade de ler.
E foi isso que pensei quando criei a capa de Dentro, de dentro do poema, de Rodrigo Ladeira.
Ao criar o projeto gráfico da capa, assumi essa missão, buscando ao mesmo tempo aliar delicadeza e inteligência visual. Para isso, pensei no no primeiro impacto, vindo da imagem central — um papel rasgado sugerindo que a capa tivesse um buraco por onde o título manuscrito vem revelado do interior do livro. Não pensei nisso é apenas como um recurso estético, mas uma metáfora pura, onde o rasgo sugere acesso ao íntimo, ao não dito, ao que estava escondido sob a superfície da página. A poesia, aqui, não está impressa — ela emerge.
Azul, silêncio e respiro
A ideia do fundo azul foi criar uma atmosfera calma, introspectiva e ampla, sem ruídos. A escolha cromática não compete com a mensagem da obra, mas a amplifica.
Tipografia
Um dos pontos mais difíceis na criação de um projeto visual é a escolha das letras para compor o título. Muitas foram testadas, em diversos tamanhos, tipos e cores. Optei por usar duas fontes diferentes, buscando uma composição bastante hierárquica.
O título DENTRO aparecendo no topo, todo em caixa alta e com contraste, funciona como ponto de entrada visual à capa. A segunda parte do título, em uma caligrafia manuscrita, centralizada dentro do buraco, serve como um mergulho no interior da obra.
Busquei nessa capa uma coerência conceitual. O projeto gráfico não tem a função de ilustrar a poesia, mas sim encenar. A ideia foi fazer com que o leitor não apenas visse a capa, mas participasse do gesto de entrar no poema. Penso que para um livro que fala sobre interioridade, imaginação e palavra, não poderia haver escolha mais simbólica.
terça-feira, 4 de novembro de 2025
O Adeus a Lô Borges nas Capas dos Jornais Mineiros — Emoção, Design e Homenagem
A morte do músico Lô Borges, um dos fundadores do Clube da Esquina, comoveu Minas Gerais e o Brasil. Símbolo da música mineira, sua despedida deveria ter uma representação à altura nas capas dos jornais de mineiros. No mínimo, verdadeiras peças de design editorial que têm o poder de transformar o luto em arte visual.
Minimalismo e poesia no Estado de Minas
A capa do Estado de Minas é um exemplo de emoção contida e força simbólica. Sobre o fundo branco, um par de tênis gastos representa o LP de 1972 intitulado Lô Borges, mas mais conhecido popularmente como disco do tênis, em referência à imagem da capa do álbum. O texto, “Se eu morrer, não chore não, é só a lua...”, é um trecho da canção Um girassol da cor do seu cabelo, e transforma a notícia em poema.
A escolha tipográfica, o espaço em branco e o equilíbrio visual fazem da página uma homenagem silenciosa, na qual o design comunica mais que as palavras. Um verdadeiro tributo ao músico, com a simplicidade e a leveza mineira.
Narrativa e movimento em O Tempo
Já o jornal O Tempo optou por uma composição mais narrativa e calorosa. O trem que parte sobre um violão é uma metáfora visual poderosa e referência musical também. As três fotos de Lô — jovem, maduro e em estúdio — constroem uma linha do tempo afetiva, destacando sua presença constante na cultura mineira e brasileira. A diagramação cria ritmo, e o uso de tons quentes e terrosos reforça o vínculo com Belo Horizonte e o Clube da Esquina, transformando a capa em uma bela peça emocional.
Design editorial como linguagem da memória
Tanto o Estado de Minas quanto O Tempo mostraram que o design jornalístico pode traduzir sentimento. As capas não apenas noticiaram uma morte. Elas contaram uma história, usaram o espaço gráfico como território da homenagem e revelaram como Minas fala de seus artistas: com poesia, silêncio e respeito. Nessas ocasiões, surgem capas bem trabalhadas e pensadas. E essas capas se tornam, documentos visuais da história e da cultura brasileira, e também exemplos de como o design editorial pode tocar o leitor pela forma, não apenas pelo conteúdo.
Abaixo, as páginas internas do Estado de Minas e o Tempo.


































.jpeg)














