No dia 25 de agosto de 1961, o então presidente da República Jânio Quadros, renunciava ao cargo. Eleito em 3 de outubro de 1960 para o mandato de 1961 a 1966, ele obteve 5,6 milhões de votos - a maior votação até então obtida no Brasil, e venceu o marechal Henrique Lott por mais de dois milhões de votos. Assumiu em 31 de janeiro de 61 e seu governo foi marcado por alguns atos polêmicos, como condecorar com a Ordem do Cruzeiro do Sul o guerrilheiro Che Guevara.
O Estadão soltou na semana passada um reportagem bastante esclarecedora sobre o breve mandato de Jânio Quadros.
Hoje, 50 anos após a renúncia, o tema é capa dos jornais O Popular, de Goiânia, e O Povo, de Fortaleza. Posto aqui as primeiras páginas destes jornais e a interna de O Povo, como sempre, um primor de diagramação.
Jânio ficou conhecido também por se comunicar através de bilhetes, que eram enviados para os funcionários de todas as escalas hierárquicas, assim como para a imprensa.
E foi assim, por meio de um bilhete, que ele anunciou a renúncia.
abaixo, o texto da carta-renúncia:
"Fui vencido pela reação e assim deixo o governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções, nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação, que pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo.
"Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração.
"Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública.
"Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia.
"Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo é no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos e de todos para cada um.
"Somente assim seremos dignos deste país e do mundo. Somente assim seremos dignos de nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos todos. Há muitas formas de servir nossa pátria."
Brasília, 25 de agosto de 1961.
— Jânio Quadros
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