A capa de hoje, a última do JT
O Jornal da Tarde chega hoje ao seu fim. A edição de número 15.409 é a última dos 46 anos de história de um dos jornais mais importantes no quesito gráfico. Com suas capas monotemáticas, pôsters, bem elaboradas, audaciosas e inovadoras, marcou época na história do design editorial, servindo de inspiração para tantos diagramadores, designers, editores de arte. Eu mesmo, por muitas vezes, quando estava concebendo a primeira página de A Tribuna, ficava imaginando como o JT daria tal notícia em sua capa.
O JT foi concebido e idealizado por Mino Carta, com o auxílio de Murilo Felisberto. Eles foram incumbidos pela família Mesquita, de O Estado de S. Paulo, para criar um novo modelo de jornal no Brasil, diferente do tradicional, buscando inspiração no intenso movimento cultural e as mudanças de comportamento que ocorriam na segunda metade da década de 1960. Com nova linguagem gráfica, tinha objetivo claro de contratar com o visual quase padronizado dos outros jornais da época.
Além disso, o jornal criou primeiras páginas consideradas históricas. Numa delas, o já ex-presidente da República Jânio Quadros aparece numa foto de página inteira visivelmente embriagado e, em outra, um garoto é mostrado entre lágrimas, também em página inteira, por conta da eliminação da Seleção Brasileira pela Itália na Copa de 82, na chamada 'tragédia do sarriá'. Sem usar fotos, mas com caricaturas do então governador Paulo Maluf, o jornal fez uma série de capas em 1983, em que o nariz de Maluf crescia a cada edição, por causa dos prejuízos da Paulipetro. O jornal ainda publicou capas conceituais, com uma grande imagem sem manchete ou uma em que quatro assuntos eram apresentados com o mesmo destaque e a manchete pedia "ajuda" ao leitor: "Escolha aqui a sua grande manchete". Por esse conceito inovador, o JT passou a ser, segundo o diretor Sandro Vaia, "objeto do desejo dos jornalistas". Suas capas históricas já foram expostas no Masp.
Um dos grandes responsáveis pela concepção das capas do JT foi o artista plástico, escultor e designer gráfico Amilcar de Castro (1920/2002) . Ele foi o responsável por introduzir a reforma gráfica do Jornal do Brasil na década de 50, que revolucionou a diagramação e o design de jornais como um todo no Brasil.
Foi diagramador nas revistas Manchete e A Cigarra. Além de ter elaborado a reforma gráfica do Jornal do Brasil, trabalhou, durante os anos 60 na diagramação dos jornais Correio da Manhã, Última Hora, Estado de Minas, e é claro, no Jornal da Tarde, entre outros, além de ter trabalhado como diagramador de livros na Editora Vozes.
Abaixo, algumas capas históricas do Jornal da Tarde, que com certeza, deixará uma lacuna no design editorial brasileiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário