quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Diagramador não é chimpanzé amestrado

Certa vez, logo que comecei a trabalhar no jornal A Tribuna, uma colega jornalista disse: "Ser diagramador é fácil. É só sentar em frente ao computador e ficar brincando de quebra-cabeças, encaixando as peças na página".
Tempos depois, um editor vociferou pelos corredores do prédio: "Não sei para que existe diagramador. Basta ensinar alguém a mexer no programa e qualquer um diagrama uma página".
Bom, esses dois episódios não mais saíram da minha memória. Para a primeira, eu tive oportunidade de lhe responder: "Sabe qual a diferença entre eu e você? Você escreve uma matéria, edita a página, faz título para as reportagens e, se preciso for, tira até as fotos. Eu, também faço tudo isso que você faz e mais uma coisa: eu brinco de quebra-cabeça". Para o editor, não tive oportunidade ou, não me recordo bem, talvez nem tenha tido ânimo para perder meu tempo discutindo.
Conclusão. Diagramador não é apenas alguém que fica sentado na frente de um computador obedecendo às ordens de um editor que fica dizendo: "abre a matéria em 5 colunas, coloca a foto em 3 e um número...."
Nosso papel vai muito além. Diagramador é o responsável pela beleza, pela unidade, pela legibilidade de uma página. E temos que sempre bater o pé, brigar, arriscar, manter a opinião.
Aqui vou colocar um exemplo de que vale à pena o diagramador ter livre arbítrio e manter sua opinião.
O jornal A Tribuna iria iniciar uma série de reportagens para a página de Petróleo e Gás. A primeira sairia em um domingo. Antes mesmo de o editor da primeira página chegar, diagramei a página. Vi a foto maravilhosa que estava sendo usada na página e a 'roubei' para a capa. Bom, para encurtar a história. Todos gostaram, mas havia um problema. O responsável pelo tratamento da imagem queria vetar o uso da fotografia, alegando que, depois de transformada em CMYK, o céu ficaria cinza. Conversei com ele. Pedi para que tentasse ao máximo manter a fidelidade nas cores, mas ainda assim, ele não confiava no resultado. O editor pensou então em trocar a foto. Eu insisti. Essa era a imagem. Depois de argumentação, a editora-executiva resolveu correr o risco e usar a imagem. O resultado? uma página belíssima que foi motivo de elogios, inclusive no blog Mídia Mundo (não que ser elogiado no site seja de suma importância, mas que enche o ego, isso enche). E valeu a pena ter a iniciativa de correr atrás da imagem, não ficar esperando editores escolherem. Afinal,diagramadores não são chimpanzés amestrados que ficam sentados apenas obedecendo ordens.

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