A capa de um livro de poesia carrega uma responsabilidade muito importante. Ela tem a função de não apenas apresentar o título, mas estimular o leitor a uma experiência sensível, sendo seduzido a manusear, folhear, ter vontade de ler.
E foi isso que pensei quando criei a capa de Dentro, de dentro do poema, de Rodrigo Ladeira.
Ao criar o projeto gráfico da capa, assumi essa missão, buscando ao mesmo tempo aliar delicadeza e inteligência visual. Para isso, pensei no no primeiro impacto, vindo da imagem central — um papel rasgado sugerindo que a capa tivesse um buraco por onde o título manuscrito vem revelado do interior do livro. Não pensei nisso é apenas como um recurso estético, mas uma metáfora pura, onde o rasgo sugere acesso ao íntimo, ao não dito, ao que estava escondido sob a superfície da página. A poesia, aqui, não está impressa — ela emerge.
Azul, silêncio e respiro
A ideia do fundo azul foi criar uma atmosfera calma, introspectiva e ampla, sem ruídos. A escolha cromática não compete com a mensagem da obra, mas a amplifica.
Tipografia
Um dos pontos mais difíceis na criação de um projeto visual é a escolha das letras para compor o título. Muitas foram testadas, em diversos tamanhos, tipos e cores. Optei por usar duas fontes diferentes, buscando uma composição bastante hierárquica.
O título DENTRO aparecendo no topo, todo em caixa alta e com contraste, funciona como ponto de entrada visual à capa. A segunda parte do título, em uma caligrafia manuscrita, centralizada dentro do buraco, serve como um mergulho no interior da obra.
Busquei nessa capa uma coerência conceitual. O projeto gráfico não tem a função de ilustrar a poesia, mas sim encenar. A ideia foi fazer com que o leitor não apenas visse a capa, mas participasse do gesto de entrar no poema. Penso que para um livro que fala sobre interioridade, imaginação e palavra, não poderia haver escolha mais simbólica.

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