No dia 10 de dezembro de 1980, A Tribuna, assim como jornais do mundo inteiro, publicava em sua capa a notícia do assassinato de John Lennon. Ao lado da manchete, a chamada sobre a morte do ex-Beatle ganha peso, mas se perde no meio de tantas outras notícias. E para complicar, a foto utilizada é do assassino anos antes do crime, e não de John Lennon.
Mas esse era o padrão visual da época. Muitas chamadas, textos com quase o mesmo peso gráfico, bastante informação ocupando praticamente todo o espaço da página, quase sem áreas de respiros.
E vendo essa capa, fiquei pensando em como seria a capa de A Tribuna nos dias de hoje, com a notícia da morte de John Lennon, com a linguagem visual, o ritmo informativo e os padrões gráficos do jornalismo contemporâneo?
Essa pergunta me despertou a vontade de criar o processo de redesenho da capa de A Tribuna, publicada em 10 de dezembro de 1980. A ideia foi revisitar aquele momento marcante, tanto para a música quanto para a geopolítica mundial, e recriá-lo com o padrão gráfico de agora, de 2025.
A primeira página original trazia dois assuntos que dominavam o noticiário naquele fim de ano: o assassinato do ex-Beatle em Nova York e a escalada de tensão no Leste Europeu, com a pressão da União Soviética sobre a Polônia. O visual da época era marcado pelo uso intenso de textos corridos, títulos mais tímidos, fotografia em baixa definição e um grid rígido, característico do jornal impresso pré-era digital.
No redesenho, as capas foram reinterpretadas seguindo os padrões atuais do próprio jornal: tipografias mais limpas, hierarquia visual clara, uso expressivo de chamadas e imagens em alta resolução.
Criei dois modelos.
O primeiro, mais tradicional e que segue a linha diária editorial, com manchete, chamadas e o grande destaque para a notícia da morte de John Lennon. O título continua o mesmo, mas ganha novas proporções e um respiro melhor no layout, com utilização da fotografia dele dominando a capa, gerando um destaque emocional visual que não existe na edição de 1980. O músico, que antes nem estava retratado na capa, surge agora em uma imagem nítida que dialoga com a estética editorial da atualidade. A aplicação da imagem do assassino reforça o papel informativo do jornal, mostrando os dois lados da notícia.
Como o objetivo não foi o de reescrever a história, mas mostrá-la sob o olhar gráfico da atualidade, a página teve também as outras chamadas do dia e, a manchete, permaneceu sendo a crise entre a União Soviética e a Polônia, tema que dominava o noticiário geopolítico de 1980.,
A segunda versão experimental tem o meu DNA. É um estilo que gosto muito de fazer. O famoso menos é mais. Uma capa conceitual que se torna uma homenagem a John Lennon. A utilização de versos da canção Imagine, que é um verdadeiro apelo seu apelo à paz, torna o design minimalista. Como imagem, usei não um foto do cantor, mas sim, uma referência tão marcante e ligada a ele, o óculos arredondado.
Essa releitura foge do formato tradicional de capa noticiosa, traduzindo em poucas linhas o impacto cultural que sua morte causou. Nesse modelo, grifei no texto os trechos que falam de motivos para matar ou morrer (que é o tema central da página), religião (o ponto de discordância que foi o motivo do crime) e vivendo avida em paz (objetivo principal da humanidade).
Acredito que o resultado final é um exercício de memória visual e editorial: uma ponte entre duas épocas, que revela como os jornais mudaram a forma de apresentar a notícia, principalmente, quando elas causam comoção mundial. Imagino o jornal impresso como uma cápsula do tempo, que pode, e deve. ser reaberta e redesenhada para uma nova geração de leitores.



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