segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Design editorial – Como foi feito o Especial da Santa Casa de Santos

O especial da A Tribuna em homenagem aos 482 anos da Santa Casa de Santos é um exemplo elegante de design editorial que une tradição, clareza e sofisticação visual.






O caderno especial da A Tribuna em homenagem aos 482 anos da Santa Casa de Santos foi pensado como o design editorial pode transformar informação histórica em uma experiência visual envolvente.  A ideia foi sair do obvio, criando um layout que agregasse o equilíbrio entre tradição e modernidade. Um projeto gráfico para traduzir quase meio milênio de história em páginas visualmente coesas e elegantes.

Estilo clássico e identidade histórica

Desde a capa, a intenção foi conduzir o leitor a um universo visual de solenidade e herança cultural.
A tipografia serifada, os detalhes dourados e a moldura ornamental emolduram o conteúdo buscando sofisticação e remetendo à tradição das antigas publicações institucionais. Para isso, a escolha do dourado serviu para transmitir prestígio e celebração, enquanto o fundo claro garante leitura confortável e contraste equilibrado. O resultado é um design que respeita a história sem parecer datado.

Composição e hierarquia visual

A capa é o ponto alto do projeto, afinal é através dela que o leitor inicia a viagem pelo suplemento especial. Por isso, a fotografia frontal da Santa Casa, de autoria de Alexsander Ferrraz,  ocupa o centro da composição, transmitindo imponência e estabilidade. Para compor o visual da capa, optei pelo título em caixa alta, com tipografia clássica e espaçamento generoso, reforçando o caráter comemorativo.
Nas páginas internas, procurei criar um layout construído com colunas simétricas, margens amplas e uso consistente de capitulares douradas. Os títulos em letras maiúsculas e o grid bem estruturado facilitam a leitura e criam ritmo visual entre os blocos de texto e imagem.

Imagens e narrativa visual

Para dar um visual mais contemporâneo às fotografias históricas, deixei-as todas em sépia, com a ideia de criar uma clara ponte visual entre o passado e o presente. O uso de ilustrações de personagens históricos acrescentam toques de cor e humanização, quebrando a rigidez do texto e tornando o conteúdo mais acessível. Cada imagem foi tratada com cuidado: legendas discretas e  integração com o texto para garantir fluidez na leitura.
Com isso, acredito que a diagramação evidencia que o conteúdo visual é parte da narrativa — não apenas um complemento.

Dois pontos foram objetos de estudo e preocupação de minha parte na confecção das páginas: a utilização da cor e da tipografia. A moldura dourada que percorre todas as páginas atua como um elemento de identidade, criando unidade entre os diferentes conteúdos.
Mesmo com o uso de recursos ornamentais, acredito que o projeto não tenha se tornado excessivo, mantendo o equilíbrio entre tradição, clareza e ritmo visual.

A ideia na criação do especial da Santa Casa de Santos foi fazer algo mais do que um suplemento jornalístico, mas uma peça de design atemporal, com rigor gráfico e estética refinada, para demonstrar como o design editorial pode preservar a história com elegância e relevância contemporânea.
Um design que não apenas comunica, mas também celebra.

Em tempo: os textos são de Anderson Firmino, a edição de Bruno Rios tendo a colaboração de Rafael Motta.


quarta-feira, 29 de outubro de 2025

A guerra no Rio de Janeiro nas capas dos jornais brasileiros

 Como o design editorial retratou a violência e o caos no Rio de Janeiro

As primeiras capas de hoje dos jornais brasileiros retratam o clima de guerra que paira sobre a cidade do Rio de Janeiro. A busca da polícia por integrantes de facções criminosas foi a mais letal na história do município. Imagens da guerra urbana estampam as primeiras páginas, do norte ao sul do País.

Do ponto de vista do design editorial, esse momento gera um vasto e potente material para traduzir visualmente nos impressos o impacto da violência urbana. 

As capas priorizam fotografias de grande impacto, mostrando carros incendiados, ruas destruídas e forças policiais em ação. Essas imagens não apenas ilustram — elas dominam a narrativaA composição visual dispensa explicações longas. O leitor sente o caos antes mesmo de ler o título. 

Os títulos aplicados em caixa alta, com fontes robustas e densas,  criam uma linguagem visual de urgência, transmitindo a gravidade do momento.

Mas o grande protagonista das capas é o fotojornalismo. Imagens diretas, de ação e devastação, tem o poder de falarem por si só. A escolha das fotografias constrói um discurso visual que abrange o País todo, onde a mesma tragédia é vista por diferentes lentes, mas com impacto semelhante.

As capas de hoje constroem um retrato visual da violência urbana brasileiraO fato de jornais de diferentes regiões usarem fotos semelhantes e títulos parecidos mostra como a edição de uma capa cria uma identidade jornalística nacionalO país inteiro viu a mesma imagem  e reagiu de forma coletiva.































sábado, 11 de outubro de 2025

Design editorial com alma filatélica. O layout da coluna social


Sempre procuro, quando há oportunidade, criar layouts diferentes para as páginas que confecciono. E isso inclui  a coluna social. Em tempos de uniformização visual nas páginas de jornais, busco surpreender o leitor através do design.

Por isso, resolvi transformar a cobertura do lançamento do selo da Pinacoteca Benedicto Calixto em um layout temático.

A ideia foi combinar elegância e conceito, explorando bordas que remetem aos dentados dos selos postais, uma paleta de cores com tons suaves e nostálgicos, e a estrutura visual equilibrada entre textos e imagens, em uma composição que transcende o registro social. Esse é um exemplo de como o design pode dialogar com o conteúdo, valorizando o tema, sempre buscando a coerência estética e narrativa visual.

Apesar de ser uma página de colunismo social, o design transcende o padrão de sociedade e eventos, assumindo um caráter quase comemorativo graças aos elementos visuais inspirados em selos postais.

Ao visualizar a página, o leitor é levado diretamente ao universo da filatelia, conseguindo navegar entre as fotos e textos do evento, sem obstáculos.


quinta-feira, 9 de outubro de 2025

A Mala Sinistra. O design do século XX narra o crime da mala

O famoso Crime da Mala marcou o início do século XX com uma cobertura intensa e visualmente dramática. Neste post, uma breve análise visual da capa de A Tribuna do dia 8 de outubro de 1928, o dia seguinte ao encontro da mala com o corpo de Maria Féa no Porto de Santos.




No dia 8 de outubro de 1928, o jornal A Tribuna chegava às bancas com sua primeira página toda destinada ao encontro, no dia anterior,  de um corpo feminino em avançado estado de decomposição, dentro de uma das malas que seriam embarcadas no transatlântico francês Massilia, atracado no porto santista com destino à Europa.

Na capa do jornal, a manchete, em caixa alta e tipografia robusta, dominou o topo, com o título chamativo de MALA SINISTRA. Uma capa impactante da imprensa do início do século XX,  não apenas pela escolha da tipografia e dos títulos, mas também pelo vasto material fotográfico publicado na capa.

A publicação é um exemplo marcante de como o jornalismo da época se aproveitava desses momentos de consternação e apelo popular para criar uma espécie de espetáculo, combinando curiosidade pública, dramatização e uma estética visual carregada de mistério e morbidez.

A composição da manchete descreve ao leitor toda a dramaticidade do momento macabro. Uma composição editorial que de aguça a curiosidade do leitor, desde o título chamativo Mala Sinistra, passando pelo subtítulo e culminando com a linha fina (ou cartola) descrevendo o achado, um corpo de mulher em decomposição.

Estilo visual e tipográfico


O layout da página segue o padrão dos jornais de época: colunas estreitas, tipografia serifada e ausência quase total de espaços em branco. A diagramação prioriza a sensação de urgência, e não a leitura fluida. Para os leitores de atuais, o desenho da página pode parecer caótico, desequilibrado e confuso. Mas para a época, está dentro dos padrões, tendo um certo tom sensacionalista, com o uso de um recurso gráfico primitivo, mas poderoso: os títulos.

 As imagens que reforçam o drama


As fotografias publicadas na página causaram forte impacto no público, principalmente a que mostra o corpo dentro da mala, algo que sempre desperto o interesse do ser humano, e ainda hoje, em tempos de internet sem freios, continua atraindo a atenção mórbida das pessoas.

A disposição das fotos espalhadas entre os blocos de texto, sem molduras ou legendas evidentes, aumenta a sensação de caos e urgência que já citei aqui. Penso que esse é um estilo de jornalismo visual de choque.

O impacto estético e histórico

Hoje, essa capa é um documento visual sobre a estética do jornalismo policial e da curiosidade pública. O sensacionalismo gráfico mostra uma imprensa que talvez, não soubesse separar a informação de um espetáculo à comunidade. Visualmente, o resultado é poderoso: uma página densa, quase claustrofóbica, que traduz o espírito de uma época em que o crime, para os capistas, era uma arte tipográfica, com a escolha, aplicação e disposição das letras.

Mais do que uma notícia, a capa de A Tribuna de 1928 é um registro visual da cultura jornalística de outro tempo, quando a palavra impressa tinha o peso de uma imagem, e a imagem, o poder de uma sentença. Rever essa página hoje é entender não apenas um crime, mas também a forma como o jornalismo aprendeu a encenar a tragédia.

90 anos depois

Em 2018, quando o Crime da Mala completou 90 anos, confeccionei uma página relembrando o assunto. Procurei voltar no tempo e levar o leitor ao ano de 1928, com um layout que remetesse aos jornais da época. mas de uma forma sútil, que facilitasse a leitura. 

Com o avanço da tecnologia e dos programas de editoração e edição de imagens, o passado e o presente se encontram.

O tom envelhecido e com marcas de dobras do papel, o sangue ressecado e a utilização de frames antigos para aplicar as fotografias da época, contrastam com a disposição harmônica e limpa dos elementos. O leitor consegue se sentir em 1928 mesmo estando em 2018.





quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Na capa do Libération, Sarkozy atrás das grades formadas pelo título

Nicolas Sarkozy se tornou o primeiro ex-presidente francês condenado a prisão. A Justiça francesa determinou que o ex-líder da França cumpra cinco anos de prisão por associação criminosa no caso de financiamento ilegal de sua campanha eleitoral de 2007 pelo governo da Líbia

Esse tema é um grande exercício para os capistas de jornais e tem um peso simbólico enorme na criação do layout, pois abre espaço para um capa que traduz um momento importante para um país inteiro, indo além do factual. (semanas atrás, os brasileiros tiveram esse mesmo exercício com a condenação de Jair Bolsonaro).

O trabalho do capista transcorre em uma linha tênue entre ser fiel à notícia ou adotar uma estética agressiva que dramatiza o layout. A prisão de um ex-presidente é um convite a capas quase cinematográficas, uma espécie de cartaz histórico.

Existem várias maneiras de se confeccionar uma capa de jornal criativa e impactante com esse tema. E o Libération soube fazer isso. Uma capa que é um exemplo claro de como o design pode intensificar o discurso editorial. O uso das letras como barras de prisão, a proximidade do rosto de Sarkozy e a gíria popular “TAULE” , que em francês significa cadeira, criam uma síntese visual poderosa que não apenas informa, mas se transformam em uma solução gráfica que registra o simbolismo da queda do poder, tornando a primeira página um documento visual da história.

Um belíssimo exemplo de criatividade, ousadia e impacto visual.


Outro jornais franceses foram no caminho normal, nada além do trivial.








sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Capas de jornais de hoje destacam a condenação de Bolsonaro

Hoje, as capas dos jornais brasileiros se transformam em documentos históricos. A notícia que estampa as manchetes é a condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos é 3 meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por crimes que vão de tentativa de golpe de Estado à abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

O impacto visual e simbólico desse acontecimento exige um tratamento editorial à altura — fotos fortes (das reações, dos ministros votando, das manifestações), manchetes que sejam diretas e responsáveis, e layouts que consigam equilibrar gravidade, clareza e jornalismo rigoroso. Afinal, mais do que informar, a capa funciona como primeiro contato — ela define tom, urgência e empatia.

Para quem elabora as capas dos jornais, esse é um momento desafiador, entre a escolha da linha visual que será utilizada e a linha editorial do veículo. Um exercício de criatividade e seriedade, sempre mantendo o respeito ao fato de que se trata de uma sentença judicial, não de um espetáculo.

Exceção foi o cearense O Povo que usou da tipografia como elemento protagonista de seu layout para causar um forte impacto visual passando de forma clara a mensagem política aos leitores. A imagem de Bolsonaro pequeno e cabisbaixo transmite a ideia de que a democracia se sobrepõe a ele. É uma capa ousada, simbólica e de leitura imediata, com uma força gráfica excepcional.

O carioca Extra também fugiu do habitual criando uma capa para ficar para a história.ou pelo menos, tentando. Mas, ao contrário do O Povo, erraram a mão, exagerando nas informações e criando uma pagina visualmente poluída. A capa é um aperitivo. Uma pequena mostra ao leitor do que ele vai encontrar no miolo. Nesse caso, já foi o banquete todo. Todas as informações estão na primeira página. Nesse caso, a regra do menos é mais séria muito bem aplicada.

Já nos demais jornais brasileiros, a seriedade deu o tom principal dos layouts.

O destaque nessa seriedade é o simbolismo da imagem usada por alguns jornais do ex-presidente em sua casa, atrás do portão. Uma forte narrativa visual:  a conotação de prisão e isolamento. As grades do portão, em primeiro plano, criam uma associação imediata com cela, cárcere, reclusão. Mesmo que Bolsonaro esteja em casa, a imagem sugere que ele já está privado de liberdade, reforçando o peso da sentença.