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domingo, 23 de novembro de 2025

A prisão de Bolsonaro nas capas dos jornais brasileiros

O apagão criativo nas capas sobre a prisão de Jair Bolsonaro

A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro dominou as capas dos principais jornais brasileiros neste domingo. Mas, do ponto de vista do design editorial, o que se viu foi menos um momento de criatividade jornalística e mais uma repetição quase automática de escolhas visuais previsíveis.
O resultado? Capas corretas, informativas… mas pobres em invenção.

A redundância visual explorada pelos jornais empobrece a experiência do leitor. Quando todas as capas entregam a mesma combinação, desaparece o impacto individual de cada jornal. É como se os veículos tivessem aberto mão da própria voz gráfica. O Globo foi um pouco além. Uma fraca luz no fim do escuro túnel do trivial design de primeira página.

Manchetes que se repetem e mostram o óbvio, o que todos já sabem, o que já está expresso nas fotos: “Bolsonaro é preso pela PF”, “Bolsonaro é preso após queimar tornozeleira”, “Bolsonaro preso”. A manchete faz apenas o básico — descreve o fato, sem interpretação visual, sem metáfora gráfica. Há acontecimentos que pedem impacto visual, outros que pedem impacto verbal. Neste caso, os jornais optaram pela solução mais segura e literal.

Senti falta de detalhes que poderiam gerar leitura dramática, como por exemplo, a foto do ex-presidente com elementos gráficos que construíssem narrativa; recortes, enquadramentos ou fundo para buscar singularidade. Quase todoss seguiram o mesmo esqueleto: foto enorme, manchete direta, submanchete explicando a foto.

A prisão de Bolsonaro é enorme como fato político. Mas as capas não transmitem esse peso. Entregam apenas a superfície factual. Nenhum jornal conseguiu traduzir, graficamente, o impacto histórico do momento. A falta de ousadia visual não é apenas uma questão estética. Ela empobrece o debate público e reduz a capacidade do jornal de interpretar, não apenas informar.

A notícia é gigantesca. O design, hoje, foi pequeno.



















terça-feira, 4 de novembro de 2025

O Adeus a Lô Borges nas Capas dos Jornais Mineiros — Emoção, Design e Homenagem

A morte do músico Lô Borges, um dos fundadores do Clube da Esquina, comoveu Minas Gerais e o Brasil. Símbolo da música mineira, sua despedida deveria ter uma representação à altura nas capas dos jornais de mineiros. No mínimo, verdadeiras peças de design editorial que têm o poder de transformar o luto em arte visual.

Minimalismo e poesia no Estado de Minas


A capa do Estado de Minas é um exemplo de emoção contida e força simbólica. Sobre o fundo branco, um par de tênis gastos representa o LP de 1972 intitulado Lô Borges, mas mais conhecido popularmente como disco do tênis, em referência à imagem da capa do álbum. O texto,  “Se eu morrer, não chore não, é só a lua...”, é um trecho da canção Um girassol da cor do seu cabelo, e transforma a notícia em poema.

A escolha tipográfica, o espaço em branco e o equilíbrio visual fazem da página uma homenagem silenciosa, na qual o design comunica mais que as palavras. Um verdadeiro tributo ao músico, com a simplicidade e a leveza mineira.

Narrativa e movimento em O Tempo

Já o jornal O Tempo optou por uma composição mais narrativa e calorosa. O trem que parte sobre um violão é uma metáfora visual poderosa e referência musical também. As três fotos de Lô — jovem, maduro e em estúdio — constroem uma linha do tempo afetiva, destacando sua presença constante na cultura mineira e brasileira. A diagramação cria ritmo, e o uso de tons quentes e terrosos reforça o vínculo com Belo Horizonte e o Clube da Esquina, transformando a capa em uma bela peça emocional.

Design editorial como linguagem da memória

Tanto o Estado de Minas quanto O Tempo mostraram que o design jornalístico pode traduzir sentimento. As capas não apenas noticiaram uma morte. Elas contaram uma história, usaram o espaço gráfico como território da homenagem e revelaram como Minas fala de seus artistas: com poesia, silêncio e respeito. Nessas ocasiões, surgem capas bem trabalhadas e pensadas. E essas capas se tornam, documentos visuais da história e da cultura brasileira, e também exemplos de como o design editorial pode tocar o leitor pela forma, não apenas pelo conteúdo.

Abaixo, as páginas internas do Estado de Minas e o Tempo.





























sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Capas de jornais de hoje destacam a condenação de Bolsonaro

Hoje, as capas dos jornais brasileiros se transformam em documentos históricos. A notícia que estampa as manchetes é a condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos é 3 meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por crimes que vão de tentativa de golpe de Estado à abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

O impacto visual e simbólico desse acontecimento exige um tratamento editorial à altura — fotos fortes (das reações, dos ministros votando, das manifestações), manchetes que sejam diretas e responsáveis, e layouts que consigam equilibrar gravidade, clareza e jornalismo rigoroso. Afinal, mais do que informar, a capa funciona como primeiro contato — ela define tom, urgência e empatia.

Para quem elabora as capas dos jornais, esse é um momento desafiador, entre a escolha da linha visual que será utilizada e a linha editorial do veículo. Um exercício de criatividade e seriedade, sempre mantendo o respeito ao fato de que se trata de uma sentença judicial, não de um espetáculo.

Exceção foi o cearense O Povo que usou da tipografia como elemento protagonista de seu layout para causar um forte impacto visual passando de forma clara a mensagem política aos leitores. A imagem de Bolsonaro pequeno e cabisbaixo transmite a ideia de que a democracia se sobrepõe a ele. É uma capa ousada, simbólica e de leitura imediata, com uma força gráfica excepcional.

O carioca Extra também fugiu do habitual criando uma capa para ficar para a história.ou pelo menos, tentando. Mas, ao contrário do O Povo, erraram a mão, exagerando nas informações e criando uma pagina visualmente poluída. A capa é um aperitivo. Uma pequena mostra ao leitor do que ele vai encontrar no miolo. Nesse caso, já foi o banquete todo. Todas as informações estão na primeira página. Nesse caso, a regra do menos é mais séria muito bem aplicada.

Já nos demais jornais brasileiros, a seriedade deu o tom principal dos layouts.

O destaque nessa seriedade é o simbolismo da imagem usada por alguns jornais do ex-presidente em sua casa, atrás do portão. Uma forte narrativa visual:  a conotação de prisão e isolamento. As grades do portão, em primeiro plano, criam uma associação imediata com cela, cárcere, reclusão. Mesmo que Bolsonaro esteja em casa, a imagem sugere que ele já está privado de liberdade, reforçando o peso da sentença.