quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Na capa do Libération, Sarkozy atrás das grades formadas pelo título

Nicolas Sarkozy se tornou o primeiro ex-presidente francês condenado a prisão. A Justiça francesa determinou que o ex-líder da França cumpra cinco anos de prisão por associação criminosa no caso de financiamento ilegal de sua campanha eleitoral de 2007 pelo governo da Líbia

Esse tema é um grande exercício para os capistas de jornais e tem um peso simbólico enorme na criação do layout, pois abre espaço para um capa que traduz um momento importante para um país inteiro, indo além do factual. (semanas atrás, os brasileiros tiveram esse mesmo exercício com a condenação de Jair Bolsonaro).

O trabalho do capista transcorre em uma linha tênue entre ser fiel à notícia ou adotar uma estética agressiva que dramatiza o layout. A prisão de um ex-presidente é um convite a capas quase cinematográficas, uma espécie de cartaz histórico.

Existem várias maneiras de se confeccionar uma capa de jornal criativa e impactante com esse tema. E o Libération soube fazer isso. Uma capa que é um exemplo claro de como o design pode intensificar o discurso editorial. O uso das letras como barras de prisão, a proximidade do rosto de Sarkozy e a gíria popular “TAULE” , que em francês significa cadeira, criam uma síntese visual poderosa que não apenas informa, mas se transformam em uma solução gráfica que registra o simbolismo da queda do poder, tornando a primeira página um documento visual da história.

Um belíssimo exemplo de criatividade, ousadia e impacto visual.


Outro jornais franceses foram no caminho normal, nada além do trivial.








sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Capas de jornais de hoje destacam a condenação de Bolsonaro

Hoje, as capas dos jornais brasileiros se transformam em documentos históricos. A notícia que estampa as manchetes é a condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos é 3 meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por crimes que vão de tentativa de golpe de Estado à abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

O impacto visual e simbólico desse acontecimento exige um tratamento editorial à altura — fotos fortes (das reações, dos ministros votando, das manifestações), manchetes que sejam diretas e responsáveis, e layouts que consigam equilibrar gravidade, clareza e jornalismo rigoroso. Afinal, mais do que informar, a capa funciona como primeiro contato — ela define tom, urgência e empatia.

Para quem elabora as capas dos jornais, esse é um momento desafiador, entre a escolha da linha visual que será utilizada e a linha editorial do veículo. Um exercício de criatividade e seriedade, sempre mantendo o respeito ao fato de que se trata de uma sentença judicial, não de um espetáculo.

Exceção foi o cearense O Povo que usou da tipografia como elemento protagonista de seu layout para causar um forte impacto visual passando de forma clara a mensagem política aos leitores. A imagem de Bolsonaro pequeno e cabisbaixo transmite a ideia de que a democracia se sobrepõe a ele. É uma capa ousada, simbólica e de leitura imediata, com uma força gráfica excepcional.

O carioca Extra também fugiu do habitual criando uma capa para ficar para a história.ou pelo menos, tentando. Mas, ao contrário do O Povo, erraram a mão, exagerando nas informações e criando uma pagina visualmente poluída. A capa é um aperitivo. Uma pequena mostra ao leitor do que ele vai encontrar no miolo. Nesse caso, já foi o banquete todo. Todas as informações estão na primeira página. Nesse caso, a regra do menos é mais séria muito bem aplicada.

Já nos demais jornais brasileiros, a seriedade deu o tom principal dos layouts.

O destaque nessa seriedade é o simbolismo da imagem usada por alguns jornais do ex-presidente em sua casa, atrás do portão. Uma forte narrativa visual:  a conotação de prisão e isolamento. As grades do portão, em primeiro plano, criam uma associação imediata com cela, cárcere, reclusão. Mesmo que Bolsonaro esteja em casa, a imagem sugere que ele já está privado de liberdade, reforçando o peso da sentença.


                                                         

                                                        













































segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Coincidências visuais para cantar Chico Buarque

Duas capas, dois jornais. Um no sudeste outro no centro-oeste. O mesmo tema: as músicas de Chico Buarque pelas vozes femininas. Uma surpreendente coincidência visual, com tipografia, título, cores que transformam a música em diagramação.


CHICO BUARQUE COMO CENTRO DA PAUTA.

Às vezes, o jornalismo nos presenteia com encontros inesperados. Dois jornais diferentes. Um do sudeste outro do centro-oeste. Edições distintas, mas um mesmo tema: Chico Buarque sob a ótica das vozes femininas. Correio Braziliense e A Tribuna mostram, além do tema, uma coincidência muito grande na narrativa apresentada. 

Daniela Mercury aparece como a intérprete que revisita a obra de Chico no Correio. Já em A Tribuna, o foco está no trio formado por Tânia Alves, Lucinha Lins e Virgínia Rosa, que sobe ao palco para dar corpo e voz ao compositor.

O curioso é que, além do tema em comum, as páginas se encontram também no visual. explorando a tipografia como elemento principal de seus layouts. Ela tem peso, força e destaque. A aplicação das fontes dessa forma cria uma unidade visual entre as publicações, quase como se fosse uma série, embora estejam grafadas em páginas de jornais diferentes. Os nomes de Chico e das cantoras soam como uma assinatura gráfica. Esse recurso cria impacto e marca a identidade visual das matérias.

As publicações conversaram entre si, como se a própria música de Chico tivesse guiado o design.

O posicionamento da fotografia ocupa a base da diagramação das páginas, sendo, em ambos os casos, aplicada na marte inferior do layout, funcionando como ponto visual mas deixando claro ao leitor que os nomes de Chico e das intérpretes é a mensagem direta que se quer passar, garantindo dinamismo à leitura, evitando assim a monotonia. 

Essas páginas funcionam quase como irmãs visuais, trabalhando o mesmo tema seguindo o mesmo conceito gráfico, resultando numa rara coincidência editorial.




Tipografia na narrativa visual

Como fugir das tradicionais imagens de laboratórios e aplicações de vacina para criar um layout sobre um novo medicamento contra o vírus da Zika que está em testes no Butantan? Resposta: a TIPOGRAFIA.



Para compor esse layout, a palavra Zika foi aplicada de forma gigante para ser o destaque gráfico principal da página, sendo escolhida uma fonte serifada que torna elegante o recurso visual. É a chamada tipografia de impacto, onde é criada uma hierarquia clara, atraindo o olhar do leitor diretamente para ele, migrando em seguida para o título Nova esperança contra a doença.

O uso da fonte serifada e robusta dá peso ao tema, tendo ainda aplicação de detalhes que contribuem com a ideia do layout, sem influenciar de forma negativo na composição. A seringa, os mosquitos transmissores da doença e os vírus, reforçam a força da narrativa, tornado a página dinâmica.

A intenção foi criar uma diagramação que transformasse uma reportagem científica em algo atrativo e de fácil assimilação por parte do leitor, tendo a comunicação facilitada pela fusão do texto e das imagens.

O impacto visual da tipografia enriqueceu o layout.

 

domingo, 3 de agosto de 2025

Donald Trump na capa da Veja. O impacto visual


 A capa da Veja desta semana apresenta um contundente design como narrativa editorial. Por meio de uma composição simbólica e provocativa, a revista transforma o rosto do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,  em uma explosão nuclear, criando metáfora direta aos conflitos causados por ele diante do tarifaço internacional.

Veja adota uma abordagem ousada, abrindo mão da fotografia documental,  optando por uma ilustração conceitual.  A explosão em forma de cogumelo resulta em uma imagem tridimensional, envolvente e impactante. É uma capa que confronta, onde a diagramação valoriza o conteúdo editorial.

A decisão de usar uma ilustração conceitual no lugar de uma fotografia tradicional foi acertada e diferenciada. É uma capa que vai além da estética.

A composição parece saltar ao leitor, com uma escolha acertada da paleta de cores e da aplicação robusta da fonte para o título da capa.

sábado, 2 de agosto de 2025

Breve análise das capas. Como os três jornais de Santos retrataram o incêndio na ZN

Se Vira Design mostra como A Tribuna, Diário do Litoral e Jornal da Orla cobriram o incêndio em Santos nas capas de hoje. 

 Na manhã de ontem, um incêndio devastou cerca de 100 moradias em palafitas na comunidade do Rádio Clube, na Zona Noroeste, em Santos, deixando uma idosa morta e centenas de pessoas desabrigadas. O impacto humano e social do fato foi imenso, rendendo destaque nas capas de três dos principais jornais da Baixada Santista: A Tribuna, Diário do Litoral e Jornal da Orla.

Neste post, vou falar um pouco sobre as três capas do ponto de vista do design e como cada um desses veículos escolheu representar graficamente a tragédia.

A TRIBUNA

Em A Tribuna, procurei criar uma capa contundente e jornalisticamente engajada em criar a narrativa do incêndio com o uso de duas imagens. A principal, da repórter fotográfica Vanessa Rodrigues, coloca o leitor no meio da tragédia, como se de dentro de um dos barracos, pela janela, pudesse ver toda a tristeza das pessoas circulando entre os destroços, ampliando o efeito dramático, quase cinematográfico.

A segunda imagem tinha de estar presente. A vista aérea com a no momento em que o fogo consumia os barracos é o fogo por outro ângulo, aquele em que o leitor é levado a ter a dimensão de toda a tragédia.

Acredito que conseguimos criar uma capa de impacto, sem explorar de forma sensacionalista a dor das pessoas, unindo um  jornalismo de qualidade com design bem resolvido.



JORNAL DA ORLA

O Jornal da Orla criou uma capa limpa e direta, também não fazendo uso do sensacionalismo.  A imagem escolhida transmite a dimensão da destruição, com bombeiros e moradores entre os restos da comunidade. Visualmente, a capa é bem balanceada, com uma composição simétrica e respiro nas margens, cumprindo bem o papel de informar e sensibilizar. Um layout bastante sério e respeitoso. 


DIÁRIO DO LITORAL

O Diário do Litoral optou por dar um tratamento mais discreto ao incêndio, o que acredito ser um erro jornalístico. A notícia, ainda que no alto da página,  aparece como nota secundária e é acompanhada de uma imagem distante, que reduz o impacto emocional do fato. A escolha por uma abordagem mais neutra pode refletir uma tentativa de manter a capa mais equilibrada, mas dilui a gravidade do acontecimento. Do ponto de vista do design, a matéria perde força e visibilidade diante das demais.